Algoritmo do preconceito

Walter Alves • 14 de agosto de 2020

É preciso responsabilizar as empresas pelas decisões tomadas pelos algoritmos e as consequências sociais de sua utilização. Criar processos de supervisão no funcionamento destes sistemas para que não se transformem no algoritmo do preconceito!


No final do mês de julho, as quatro maiores empresas de tecnologia dos Estados Unidos – Apple, Amazon, Facebook e Google – conhecidas como Big Techs, divulgaram seus balanços e mostraram um desempenho extraordinário no 2º trimestre. Uma performance jamais imaginada pelos analistas financeiros de Wall Street nestes tempos de Covid-19.


A Apple teve elevação de 11% em sua receita, o equivalente a cerca de US$ 6 bilhões. A Amazon reportou lucro, depois dos impostos, de US$ 5,2 bilhões.


Se levarmos em conta a retração de mais de 20% no mercado de publicidade em países desenvolvidos, Facebook e Google se saíram melhor que as mais otimistas previsões. A receita do Facebook subiu 11%, para US$ 18,7 bilhões. A Alphabet, controladora do Google, divulgou sua primeira queda de vendas na história com diminuição de apenas 2%.


Impulsionado pelo anúncio dos excelentes resultados, o valor de mercado das 4 companhias somado aumentou em torno de US$ 230 bilhões, atingindo mais de US$ 5 trilhões pela primeira vez. Valor maior que toda a economia alemã.


Em 30/7, os executivos-chefes das quatro gigantes – Tim Cook, da AppleJeff Bezos, da AmazonMark Zuckerberg, do Facebook e Sundar Pichai, do Alphabet (Google) se defenderam numa comissão da Câmara dos Deputados, em Washington, de acusações de sufocamento de competidores impedindo a livre concorrência.


Durante seus depoimentos, os CEO tentaram mostrar como seus mercados são competitivos e como o valor de suas inovações e serviços foram essenciais aos consumidores.


Tiveram, no entanto, dificuldades para responder sobre suas práticas negociais além de outras questões sobre parcialidades políticas.

Os dados comprovam: o poder econômico-financeiro e político destas empresas tornou-se assustador e perigoso.

desenho de homem com lupa

O poder tecnológico, entretanto, é outra forma de dominação bem menos evidente e capaz de provocar males tão grandes quanto o do monopólio comercial – pelo menos na opinião deste articulista.


É o poder de construir e aplicar algoritmos nas mais diversas funções: na busca de uma receita gastronômica, no reconhecimento facial, na indicação de filmes e séries, na prevenção de fraudes, na recomendação de tratamentos médicos, na escolha do melhor trajeto, na seleção de candidatas ou candidatos para um posto de trabalho ou na concessão de crédito.


E, pela forma como é construída a tecnologia, reconhecimento facial, prevenção de fraudes bancárias e seleção de candidatos ou candidatas podem reforçar o racismo, a misoginia e a homofobia através da discriminação de grupos sub-representados (pessoas 50+, mulheres, negras e negros, pessoas com deficiência, LGBTQI+) e privilegiar grupos hegemônicos (jovens, homens, brancos, heterossexuais) promovendo a intolerância das mais variadas formas. Aí nos deparamos com uma espécie de algoritmo do preconceito.


Mas o que é mesmo um algoritmo?


É uma série de instruções simples para a solução de um problema. É um passo a passo, uma sequência de códigos expressa numa linguagem matemática e desenvolvida para determinar o que um computador deve fazer.


Todo algoritmo tem uma entrada e uma saída. O computador é alimentado por dados na entrada; as instruções contidas no algoritmo processam estes dados e daí surgem os resultados que são as informações de saída.


O assunto não é novo e vem sendo debatido publica e amplamente, pelo menos, desde 2009 quando um software da HP não conseguia identificar rostos negros.


Um dos casos de maior repercussão aconteceu em 2015. Um usuário do Google Photos percebeu que o programa etiquetava seus amigos negros como gorilas.


O algoritmo da inteligência artificial (IA) não era capaz de distinguir a pele de um ser humano da dos macacos, gorilas e chimpanzés.


Essa atitude racista da máquina fez com que a Alphabet pedisse desculpas. Os vários movimentos antirracistas espalhados pelo mundo se mobilizaram em críticas fazendo com que o algoritmo fosse reescrito mitigando a denominação racista.


Os exemplos são vários. Tarcízio Silva professor, pesquisador e especialista em monitoramento de mídias sociais e métodos de pesquisa digitais mantém a Linha do Tempo do Racismo Algorítmico/Tecnológico: casos, dados e reações onde se lê que “A timeline é um […] projeto (que) estuda as cadeias produtivas da plataformização digital (mídias sociais, aplicativos, inteligência artificial) e seus vieses e impactos raciais”. A visita à página é altamente recomendada.


Algoritmo do preconceito


É relevante termos a clareza que algoritmos são programados por humanos e utilizam base de dados selecionada por humanos. Portanto, estão sujeitos às influências destes indivíduos. 


Sabemos que pessoas deixam-se transparecer em suas escolhas ou na solução de problemas, e que, mesmo inconscientemente, conduzem seus vieses para o trabalho como é o caso da escrita de algoritmos.


A escolha de modelos matemáticos e de bases de dados deve ser cuidadosamente feita para minimizarmos a possibilidade destes preconceitos inconscientes.


Pense num algoritmo hipotético utilizado por uma empresa de recrutamento e seleção (R&S). Hoje, comemora-se a escolha de novos funcionários e funcionárias – dentre os vários candidatos e candidatas – feita por plataformas, baseadas em IA, onde não se considera gênero, raça ou cor, idade, orientação sexual ou condição física e sensorial.


Dito de outra forma, novas funcionárias e funcionários seriam escolhidos, exclusivamente, pelas suas competências e não mais pela aparência – gênero, raça ou cor – ou características como idade e orientação sexual ou, ainda, pela condição física e sensorial.


As pessoas 50+, que se considerassem aptas para o cargo, poderiam se tranquilizar, pois, a idade avançada – indesejável por algumas organizações – não seria levada em conta na decisão da contratação, já que este dado não estaria disponível para avaliação.


O algoritmo da IA, entretanto, poderia conter uma sutileza. Imagine que haveria um campo no formulário, a ser preenchido pelo candidato ou candidata, que solicitasse, inocentemente, o ano de formatura no curso universitário.


Desta forma, mesmo sem ter a data de nascimento – não pedida explicitamente -, seria possível aproximar a idade utilizando a data de formatura.


De tal modo que candidatas e candidatos que ultrapassassem a idade limite pretendida pela empresa seriam descartados. Até que se constatasse a falhas ou o viés, o estrago já teria sido feito e o processo divulgado como isento e inovador, seria, na verdade, preconceituoso e discriminatório.

mulher madura loira em frente ao computador com a pagina do wikipedia aberta

É neste imenso poder tecnológico que devemos estar atentos e nos mostrar contra o algoritmo do preconceito.


Hoje, os algoritmos são escritos sem quaisquer protocolos que garantam respeito aos grupos sub-representados.


É preciso responsabilizar as empresas pelas decisões tomadas pelos algoritmos e as consequências sociais de sua utilização. Como, também, criar processos de supervisão no funcionamento destes sistemas.


Equipes multidisciplinares, certamente, contribuiriam para maior facilidade na detecção e solução de erros. Não basta especialistas em educação, saúde, finanças, serviços públicos ou recrutamento; profissionais que entendem de direito, deficiência, envelhecimento, sociologia ou ética também deveriam estar presentes nas equipes de programação.


A diversidade de olhares e pontos de vista nunca foi tão importante como agora e nestes casos. Isto, somente, ocorrerá se movimentos contra o preconceito etário, antirracistas, feministas, em defesa das pessoas com deficiência e anti-transfóbicos se mobilizarem e exigirem participação na programação e supervisão dos algoritmos. Sem isso, as consequências serão imprevisíveis e inimagináveis.


Se gostou do conteúdo, deixe seu comentário. Gostaria muito de ouvir a sua opinião sobre algoritmo do preconceito!


Assista abaixo a Live MatureiTalks que fiz junto junto com o Morris Litvak dia 03/09 no Instagram da Maturi sobre o assunto deste artigo:

Compartilhe esse conteúdo

Artigos recentes

11 de fevereiro de 2025
Há cinco anos, comecei a perceber um movimento crescente nas redes sociais: um número expressivo de influenciadores maduros estava se destacando, conquistando audiências engajadas e criando conteúdos autênticos. No entanto, o mercado publicitário ainda os ignorava, concentrando suas atenções quase exclusivamente nos perfis mais jovens. O reconhecimento desse potencial veio de forma natural, através de conversas com esses criadores. Muitos me procuravam dizendo: "Tenho um perfil no Facebook com 200.000 seguidores e quero me expandir nisso. O que devo fazer?" . Ficou evidente para mim que havia um enorme espaço para esses talentos, mas faltava suporte, visibilidade e oportunidades. Foi então que criei o Silver Makers , um hub de marketing de influência totalmente focado em perfis 50+. Nosso propósito sempre foi claro: dar protagonismo aos influenciadores maduros e mostrar ao mercado o imenso valor desse público. Nosso lema reflete essa missão: dar voz, vez e valor ao público sênior! De lá para cá, houve uma verdadeira revolução digital impulsionada por essa nova geração de influenciadores. Com autenticidade, experiência de vida e um olhar único sobre o mundo, eles estão conquistando espaço, quebrando estereótipos e provando que longevidade e tecnologia caminham juntas. A Força dos Influenciadores Maduros no Digital Muito além do entretenimento, as redes sociais se tornaram uma ferramenta essencial para a longevidade ativa. Elas ajudam a combater a solidão, fortalecem a autoestima e possibilitam a construção de novos propósitos. Para muitos, ser influenciador não é apenas um hobby, mas uma profissão que permite compartilhar conhecimento, histórias inspiradoras e ainda gerar renda extra. Com o aumento da expectativa de vida e os desafios financeiros que acompanham a maturidade, a monetização digital se apresenta como uma alternativa viável e necessária. Plataformas como Instagram, YouTube e TikTok permitem que influenciadores maduros criem comunidades engajadas e colaborem com marcas que reconhecem o valor de suas trajetórias. O Que Faz um Influenciador Maduro se Destacar? Os influenciadores 50+ trazem consigo algo inestimável: experiência de vida. Eles passaram por desafios pessoais e profissionais, acompanharam diversas transformações sociais e culturais e, por isso, têm muito a compartilhar. Esse repertório torna seus conteúdos autênticos e valiosos para diversas audiências, desde outros maduros em busca de representatividade até jovens que enxergam neles mentores naturais. Tendências de Conteúdos que Performam Bem Os influenciadores maduros estão se destacando em diversos segmentos, trazendo autenticidade, representatividade e quebrando estereótipos. Alguns formatos de conteúdo que têm grande engajamento incluem: ● Bem-estar e saúde: Rotinas saudáveis, alimentação equilibrada, exercícios físicos adaptados e cuidados com a mente. ● Finanças na maturidade: Estratégias para administrar recursos, organizar a aposentadoria e buscar novas fontes de renda. ● Empreendedorismo e reinvenção profissional: Histórias inspiradoras de quem mudou de carreira ou começou um novo projeto depois dos 50. ● Entretenimento e estilo de vida: Viagens, moda, comportamento e cotidiano, mostrando que a maturidade é uma fase vibrante e cheia de possibilidades. ● Tecnologia e inclusão digital: Criadores que desmistificam a tecnologia, ajudando a reduzir a exclusão digital e incentivando o aprendizado contínuo. ● Celebridades 50+ e o combate ao etarismo: Figuras públicas que usam suas redes sociais para desafiar estereótipos e mostrar uma longevidade ativa e atuante. ● Mulheres e os desafios da maturidade: Cada vez mais influenciadoras falam abertamente sobre temas como menopausa, ajudando sua audiência a lidar melhor com questões antes consideradas tabu. ● Gastronomia afetiva: Perfis de talentos culinários que ensinam receitas deliciosas e resgatam a memória afetiva por meio da comida. ● Conexão intergeracional: Netos que compartilham momentos divertidos com seus avós, valorizando a experiência e a sabedoria da longevidade. Independentemente do nicho, todos esses criadores têm algo em comum: valorizam a maturidade e combatem a visão ultrapassada de uma longevidade frágil e limitada. Eles mostram, na prática, que viver mais também significa viver melhor, com propósito e protagonismo. O Papel das Marcas na Valorização da Experiência As marcas que reconhecem o valor da experiência colhem os frutos de uma comunicação mais autêntica e conectada com um público que tem muito a dizer. O Banco Mercantil tem sido um dos protagonistas desse movimento, investindo no potencial dos influenciadores digitais 50+, apoiando criadores e descobrindo novos talentos. A presença do Banco nesse cenário reforça a relevância desse público e valoriza o protagonismo dos maduros no digital. Porque, assim como eles, o Banco acredita que a experiência inspira, transforma e gera impacto real. Gostou? Leia também: 4 projetos para o público 50+ apoiados pelo Banco Mercantil! ________________________________________ Clea Klouri Sócia do Hype 60+ e fundadora do Silver Makers
3 de dezembro de 2024
Quando começar a se planejar para aposentadoria? Quanto mais cedo você começar a planejar a sua aposentadoria, maiores serão as chances de alcançar seus objetivos financeiros. Mesmo para quem está próximo da aposentadoria, nunca é tarde para começar a planejar e tomar medidas para melhorar sua situação financeira futura. Qual sua aposentadoria ideal? O primeiro passo é visualizar como você gostaria que fosse sua aposentadoria. Pense em questões como: ● Onde você gostaria de morar? ● Que tipo de atividades gostaria de realizar? ● Quais são seus sonhos e aspirações para essa fase da vida? Essa reflexão ajudará a determinar o montante financeiro necessário para sustentar o estilo de vida desejado. E a partir dela, você conseguirá seguir os próximos passos! Calcule suas necessidades financeiras futuras Com base em sua visão de aposentadoria, é importante fazer uma estimativa realista de suas necessidades financeiras futuras. Considere fatores como: ● custos de moradia; ● alimentação; ● saúde; ● lazer; ● possíveis imprevistos. Lembre-se de levar em conta a inflação ao fazer esses cálculos. Estabeleça metas concretas e mensuráveis Por exemplo, em vez de simplesmente dizer "quero ter uma aposentadoria confortável", estabeleça uma meta como "preciso acumular R$ X até os 65 anos para ter uma renda mensal de R$ Y durante a aposentadoria". Metas específicas são mais fáceis de acompanhar e alcançar. Crie um cronograma realista Desenvolva um cronograma realista para atingir suas metas. Divida seus objetivos em etapas menores e estabeleça prazos para cada uma delas. Isso tornará o processo menos intimidante e permitirá que você acompanhe seu progresso de forma mais eficaz. Revise e ajuste suas metas periodicamente Lembre-se de que o planejamento financeiro para a aposentadoria é um processo dinâmico. À medida que sua vida muda, suas metas também podem precisar de ajustes. Faça revisões periódicas de seus objetivos e ajuste-os conforme necessário para garantir que permaneçam relevantes e alcançáveis. Melhores investimentos para a aposentadoria Existem diversas estratégias e opções de investimento disponíveis, e é importante escolher aquelas que melhor se adequam ao seu perfil e objetivos. Confira algumas dicas: Diversificação: a chave para reduzir riscos Uma das regras de ouro do investimento é a diversificação. Distribuir seus recursos em diferentes tipos de ativos ajuda a reduzir riscos e aumenta as chances de obter retornos consistentes ao longo do tempo. Investimentos de renda fixa Opções de renda fixa oferecem segurança e previsibilidade de retorno, como: ● Títulos do Tesouro Direto ; ● CDBs ; ● LCIs/LCAs. Esses investimentos são especialmente importantes para quem está próximo da aposentadoria ou tem baixa tolerância ao risco. Investimentos em renda variável Ações, fundos de investimento e ETFs têm potencial de retornos mais elevados, embora tenham maior volatilidade. Para quem está longe da aposentadoria, alocar uma parte do dinheiro em renda variável é uma estratégia para buscar crescimento de longo prazo. Previdência privada: PGBL e VGBL Os planos de previdência privada , como PGBL e VGBL, são opções para complementar a aposentadoria. Eles oferecem benefícios fiscais e podem ser uma forma disciplinada de poupar para o futuro. Investimentos imobiliários Investir em imóveis pode ser uma forma de gerar renda passiva para a aposentadoria. Isso pode incluir a compra de imóveis para aluguel ou investimentos em fundos imobiliários. No entanto, é importante considerar os custos e responsabilidades associados a esse tipo de investimento. Por que se preparar? Ao seu aposentar, é esperado que sua renda tenha alterações. Mesmo se aposentando com o teto máximo do INSS, existe a chance de seu benefício ser menor do que você ganhava na ativa. Lembre-se: com um bom planejamento financeiro, você estará preparado para aproveitar ao máximo essa etapa, livre de preocupações financeiras e pronto para realizar seus sonhos e aspirações. Gostou das dicas? Conheça o Blog do Mercantil e acompanhe mais conteúdos sobre finanças na aposentadoria!
Por Contato Maturi 4 de setembro de 2024
Banco Mercantil e MaturiFest 2024: confira como foi o evento!
Share by: