A importância de ter uma “carreira paralela”

Renato Bernhoeft • 2 de agosto de 2017

 Caso você esteja na categoria do profissional que possui apenas uma identidade organizacional, – tipo “José da Petrobrás; Amauri da Volkswagen… – e a utiliza constantemente tanto nos contatos de trabalho como sociais, aqui vai um alerta: Cuidado! Sua dependência desta “identidade” o torna vulnerável à situações como desemprego, aposentadoria ou até mesmo para avaliar oportunidades ligadas à sua carreira.


A maioria dos executivos brasileiros que mantém apenas uma “identidade organizacional” só percebe o risco que corre após sua perda.


E de maneira geral ela é compreendida apenas quando sua capacidade de reagir já se enfraqueceu. Trinta e cinco anos lidando com executivos em empresas das mais diferentes origens, importância e tamanho, em temas como administração do tempo, qualidade de vida e pós-carreira (preparação para a aposentadoria), me permitiram verificar o descuido que os mesmos mantém em relação à importância de uma “segunda carreira”.


A prática tem demonstrado que todo profissional que desenvolve mais de uma “identidade organizacional” torna-se mais criativo, fica menos sujeito às pressões da hierarquia ou cultura organizacional e tende a correr mais riscos calculados no processo decisório.


A proposta deste artigo é alertar todo o profissional vinculado à uma organização que não descuide deste assunto ao longo de sua carreira. E o ideal é que isto já faça parte do seu plano de desenvolvimento desde o início da sua relação com o mundo do trabalho. Não é tema para preocupar-se apenas ao cruzar a linha da meia-idade ou em situações de desemprego.


As transformações no mundo do trabalho alteraram profundamente as relações entre profissionais e empresas.


Muitas organizações compreendem hoje que permitir aos seus executivos desenvolverem atividades ou carreiras alternativas, não colidentes com os interesses da empresa, é bom e pode trazer resultados positivos. Além do que a relação de lealdade entre ambos também se alterou profundamente. O início da década 90 desmistificou o que os estudiosos chamavam de “homem organizacional”.


Uma vez mais vale também o registro de que muitas mulheres tem conseguido administrar este assunto com mais competência. A maioria delas, requeridas em vários papéis – mãe, esposa, amante, administradora do orçamento doméstico, etc. – não tem colocado a carreira profissional como única opção para realizarem-se como pessoas.


Vejamos algumas questões como proposta para que você exercite um processo reflexivo e adote medidas concretas em relação ao tema e sua vida:


  1. Quanto do seu prestígio e realização pessoal/profissional depende da sua atual “identidade organizacional”?Não podemos negar que ainda vivemos num “mundo organizacional, onde a identidade das empresas tende a ser bastante valorizada, e na maioria dos casos é ela que empresta ou agrega valor aos indivíduos. Inclusive a imagem e reconhecimento público da empresa estabelece diferenciações de prestígio podendo gerar comparações de “status” entre profissionais.Esta questão procura alertar para quanto você está dependente desta identidade e usa com orgulho e satisfação à ponto de não possuir uma própria.

  2. Você desenvolve outras atividades que lhe permitam criar uma “identidade alternativa”? (Entende-se por “identidade alternativa” atividades, trabalhos, cargos ou vinculações com outras entidades que não aquela do seu vínculo principal).É fundamental compreender que não estamos falando apenas do preenchimento do tempo livre ou algum “hobby”. Mas ela deve permitir a você orgulhar-se dela pelo valor que agrega à sua vida pessoal e profissional. Pode, inclusive, ser no futuro uma opção de carreira principal ou ocupação. Exemplos neste sentido podem estar ligados à sua capacidade de empresariar sua habilidade, dar aula, fazer consultoria, escrever, montar um negócio próprio, associar-se com outro, filantropia, trabalho comunitário, político, cultural, etc.

  3. Você mantém uma “rede” de contatos extra-empresa?Muitos profissionais têm seu círculo de relações restrito à pessoas ligadas à própria empresa. Colegas de trabalho, fornecedores, clientes e outros tantos. Não se preocupam em ampliar suas relações como forma de conhecer pessoas novas, interessantes e que possam contribuir para desenvolver visões diferentes sobre o mundo do trabalho. O bairro onde reside, o clube ou lugares que freqüenta podem ser ambientes para criar estas alternativas.

  4. Você procura manter-se informado/atualizado sobre outros temas profissionais e empresariais?A freqüência a seminários, palestras, associações de classe e leituras são elementos úteis para criar este interesse. Hoje com os meios de comunicação cada vez mais globalizados estas possibilidades se ampliaram muito.

  5. Possui uma noção clara dos seus pontos fortes e fracos, tanto profissionalmente como pessoalmente?Esta avaliação tem uma dupla finalidade. Permitirá a você explorar mais suas forças e desenvolver formas de suprir suas fraquezas. E a forma de fazê-lo pode ser individualmente ou através da complementaridade com terceiros.Realize uma sincera e profunda análise desta questão procurando ouvir os que o cercam. Isto pode ajudar na mudança de alguns hábitos ou descobertas de capacidades latentes.

  6. Você consegue se ver como um “produto” que precisa ser aperfeiçoado, divulgado, elaborado e “oferecido” ao mercado?Não esqueça que uma das maiores exigências nas transformações do atual mercado de trabalho é tornar as pessoas responsáveis pelo gerenciamento da sua carreira. Autodesenvolvimento não é uma tendência ou modismo.É a forma com que cada vez mais os profissionais deverão se habituar a cuidar de seu presente e futuro.

Concluindo, vale registrar que a proposta de uma ”segunda carreira “ também é uma responsabilidade sua. Não fique esperando que as oportunidades surjam, mas busque-as.


Acima de tudo tenha em mente que desenvolver uma segunda “identidade organizacional” vai fortalecer sua identidade própria. Ou seja, você vai se sentir muito mais valorizado como pessoa o que terá efeitos sobre a melhor qualidade do profissional.


Assuma a responsabilidade de refletir e agir. Mas saiba que é um processo, e portanto requer atenção permanente.

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