Empregados mais velhos dão nova vida ao mercado de trabalho na Europa

Walter Alves • 26 de julho de 2019

 

Quando o empresário Kim Diaz abriu um bar-restaurante em Barcelona há quatro anos, adotou uma política rigorosa de contratação: apenas trabalhadores com 50 anos ou mais. A aposta valeu a pena. A equipe de funcionários mais velhos é pontual, educada e trabalhadora, diz o homem de 51 anos, e faz sucesso entre os clientes mais jovens.


“Estamos falando de garçons que gostam de seus empregos, lembram exatamente como você toma seu café da manhã, como você quer sua cerveja sem espuma e sua Coca-Cola com apenas um cubo de gelo”, disse Diaz. A idade média dos empregados é de 54 anos.


Numa Europa que envelhece rapidamente, os empregadores estão encontrando maneiras de ter funcionários mais velhos trabalhando: mantendo-os por mais tempo ou mesmo como novas contratações.


Os trabalhadores entre os 55 e os 74 anos apresentaram crescimento de 85% no emprego na zona do euro, entre 2012 e 2018, segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).


A tendência supera o que é considerado o comum nos mercados de trabalho, quando os trabalhadores jovens – mais baratos e mais flexíveis – são os mais cobiçados. Empregadores e economistas, no entanto, afirmam que – a grande e altamente educada geração de baby boomers – desenvolveu habilidades que são difíceis de substituir.


A mudança no perfil para trabalhadores mais velhos contratados acontece quando a Europa se aproxima de um abismo demográfico. Dezesseis por cento da população em idade ativa da região, com idades entre 15 e 64 anos, estará inativa até 2050, de acordo com um artigo publicado agora em junho pelo Banco Central Europeu.


Isso é o dobro da participação da população em idade de trabalho dos EUA que estará inativa no período. Para evitar o rápido declínio demográfico, as empresas e governos europeus estão apressados em impulsionar o emprego e o aumento de produtividade dos mais velhos.


Cientes do rápido envelhecimento da força de trabalho, os executivos da montadora alemã BMW AG iniciaram uma experiência numa fábrica na Baviera há alguns anos. Eles colocaram numa linha de montagem exclusivamente trabalhadores mais velhos, com uma idade média de 50 anos.


Com pequenos ajustes e um desembolso total de cerca de € 40.000 (US $ 45.000) – cadeiras ergonômicas, pisos de madeira menos rígidos, lentes para ampliar peças menores – a linha tornou-se uma das mais eficientes da BMW. “Descobrimos que os trabalhadores mais velhos tinham a mesma produtividade que os mais jovens e, em termos de qualidade, eram ainda melhores”, disse Jochen Frey, porta-voz de recursos humanos da BMW em Munique. O design da linha já foi replicado nas fábricas da BMW na Alemanha e em outros países.


Até há pouco tempo, os economistas presumiam que a produtividade dos trabalhadores atingia o pico entre 30 e 45 anos, antes de cair rapidamente depois de 60. Mas algumas pesquisas recentes contrariam esta suposição: examinando grandes conjuntos de dados, economistas liderados por Axel Boersch-Supan na Munich Technical University descobriram que a produtividade não muda muito com trabalhadores com a idade de 65 anos.


Embora o sucesso do mercado de trabalho para os trabalhadores mais idosos seja positivo para a economia da Europa, a curto prazo há o aumento nas taxas de desemprego entre os jovens. Estas perdas iniciais intensificam as preocupações de uma geração perdida. A taxa de desemprego abaixo dos 25 anos é de cerca de 16% na zona do euro, o dobro da taxa nos EUA. Ela está acima de 30% na Itália e na Espanha.


Enquanto isso, segundo dados da OCDE, cerca de três quartos dos alemães com idades entre 55 e 64 anos estão trabalhando. Na Itália e na França, a taxa de emprego – na mesma faixa etária – subiu para 55%. A mesma taxa para os americanos mantem-se estável em torno de 65%.


Esta elevação de trabalhadores mais velhos na ativa significa que a força de trabalho da zona do euro é agora 2% maior do que antes da crise de 2008, desafiando as previsões de que iria encolher. Isso ajudou a elevar a recuperação da região de uma profunda crise financeira, tornando mais fácil para as empresas preencherem vagas e para os governos taparem buracos dos cofres públicos.


“Muitas vezes, é lucrativo para as empresas fazer pequenas mudanças para manter as pessoas trabalhando”, disse Juergen Deller, professor de psicologia industrial da Germany Lüneburg University, que estudou o fenômeno dos “trabalhadores de prata”.


A Siemens AG, conglomerado industrial com sede em Munique, mantém um programa de mentoria reversa, no qual funcionários mais velhos aprendem novas competências digitais com colegas mais jovens, informa Ralf Franke, executivo da empresa. A Enel SpA opera um programa similar. A Siemens utiliza seus funcionários mais experientes, chamados silverbacks, para avaliar riscos em seus projetos.


Para capitalizar com essa tendência, Caroline Young fundou, em 2005, uma agência de recrutamento em Paris que recruta trabalhadores aposentados na França, Alemanha e Bélgica. As empresas francesas estavam demitindo pessoas aos 50 anos para cortar custos. Agora, muitas as querem de volta.


“As pessoas mais velhas são mais flexíveis para viagens”, disse Steffen Haas, que administra uma agência similar para idosos especialistas em automóveis na Alemanha. Um de seus trabalhadores é Georg Häussler, que se aposentou há seis anos, depois de décadas em empresas na Europa e nos Estados Unidos. Agora, aos 67 anos, viaja semanalmente para um emprego no sul da Alemanha, perto de Hannover. Ele planeja trabalhar por, pelo menos, mais dois ou três anos.


A BMW – onde os trabalhadores com mais de 55 anos serão cerca de um quarto da força de trabalho até 2025 -, está testando exoesqueletos para ajudar os mais velhos a levantar peças maiores e robôs que os ajudem nas tarefas mais extenuantes.


Existem limites, no entanto, para maior ocupação dos mais velhos. A atividade empreendedora é menos comum entre estes trabalhadores, pois eles tendem a ser mais resistentes às novas tecnologias, diz Ekkehard Ernst, chefe de macro política da Organização Internacional do Trabalho (OIT). “Esse efeito é bastante relevante em termos de crescimento da produtividade”.


Ainda assim, alguns investidores estão apostando num papel cada vez maior para os empreendedores mais velhos à medida que a economia digital amadurece. Christian Miele, um investidor de capital de risco em Berlim, argumenta que a próxima geração de startups europeias de tecnologia provavelmente será dirigida por fundadores mais velhos.


Em vez de vender livros e sapatos on-line, as empresas venderão, por exemplo, seguros que exigem aprovações regulatórias, produtos business-to-business complexos ou ferramentas de Inteligência Artificial. Para criar e negociar estes produtos e serviços há que se ter décadas de experiência.


Um exemplo é Peter Hagen, que aos 50 anos deixou o cargo de executivo-chefe da Vienna Insurance Group, uma grande seguradora austríaca, após uma carreira de quase 30 anos. Agora, aos 59 anos, se reinventou como empreendedor em Berlim construindo uma seguradora digital, a Coya, com um ex executivo da seguradora alemã Allianz SE, que também tem 59 anos. “Eu nem penso em me aposentar”, disse Hagen.

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