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Foi como se tivéssemos acordados numa madrugada de tempestade. A noite anterior estava muito quente. Janelas, portas das sacadas e do interior foram deixadas abertas para que o ar, mais fresco da noite, circulasse livremente.
Com a força do vento, estrondos de portas fechando foram ouvidos e papéis sobre as mesas de trabalho se espalharam pelo chão cobrando nova organização na manhã seguinte.
Além do espanto inicial, nos paralisamos à espera do fim, acreditando que depois da tempestade virá a bonança.
A tempestade real a que nos referimos, está demorando muito mais do que gostaríamos e do que previmos incialmente.
Desde dezembro de 2019, as notícias sobre a pandemia foram aumentando até se tornarem o único tema importante mundialmente. Há mais de um ano, o coronavírus chegou ao Brasil provocando estragos e mudanças inimagináveis.
A notícia mais recente (e triste) é que nosso País ocupa a última posição entre 98 países dentre os que combatem a pandemia no mundo.
Em uma escala de 0 a 100, o Brasil obteve nota 4,3, atrás de México, com 6,5, e Colômbia, com 7,7. A Nova Zelândia é o país mais bem avaliado, com 94,4 pontos, seguido pelo Vietnã e Taiwan. O ranking foi elaborado pelo Instituto australiano Lowy.
Confesso minha dúvida quanto à validade de escrever, neste momento, sobre os efeitos da pandemia. Mesmo assim o farei. Pois além de sentir a necessidade de discutir o contexto atual sobre esta ótica, acredito, também, na necessidade de mostrar que ações imediatas são necessárias para mitigar as grandes dificuldades que a pandemia trouxe a exclusivos e excluídos estratos sociais.
A temeridade, a precipitação e a extemporaneidade devem ser deixadas de lado. A escolha de fontes confiáveis para análise e emissão de opiniões suavizam meus sentimentos e minhas sensações de repercutir as más notícias que vêm junto com este assunto.
A Oxfam, lançou em 25/1, no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça o relatório O Vírus da Desigualdade. A ONG usou dados do Banco Mundial (Bird), do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para projeções e, também, a lista anual do patrimônio líquido dos bilionários no mundo publicada pela Forbes.
A conclusão é que “a pandemia tem o potencial de aumentar a desigualdade econômica na maioria dos países ao mesmo tempo. Atinge com mais força pobres, mulheres e negros. Os muito ricos recuperaram suas perdas em nove meses, enquanto os mais pobres do planeta levarão 14 anos para repor seus prejuízos”.
Enquanto as mil pessoas mais ricas do mundo recuperaram todas as perdas que tiveram durante a pandemia entre fevereiro e novembro de 2020, as mulheres, que têm a maioria dos empregos mais precários, perderam renda. As taxas de contaminação e mortes são maiores em áreas pobres na França, Espanha e Índia.
Na Inglaterra, estes índices são o dobro nas regiões mais pobres comparadas com as mais ricas.
No final de novembro de 2020, informamos no artigo Pandemia aumentou as aflições dos 60+ no Brasil os efeitos da Covid-19 explicando que ao usarmos o modelo da Classificação Internacional de Doenças (CID), o coronavírus era, à época, a principal causa de morte no país.
Citamos o professor Alexandre Kalache utilizando suas afirmações: “[…] Muitas das vítimas são jovens, envelhecidos prematuramente por doenças que têm como raiz a pobreza, mas a maioria vem dos 31 milhões de brasileiros com mais de 60 anos. […] A Covid-19 encontrou terreno fértil no Brasil. De acordo com o Banco Mundial, quase metade da população brasileira vive na pobreza – com menos de US$ 5,50 por dia – ou está prestes a passar abaixo desta linha. […] Quase 50% da população não tem acesso a um sistema de esgoto adequado e 33 milhões têm apenas abastecimento irregular de água. Grandes e multigeracionais famílias vivendo em espaços mínimos, transportes públicos sobrecarregados e empregos precários são a realidade para dezenas de milhões.”
Numa outra pesquisa realizada, em 19 países da América Latina, pela empresa de cibersegurança Kaspersky com 13 mil pessoas ficou evidente que a pandemia afetou a vida profissional das mulheres que trabalham em tecnologia.
Segundo citação do estudo feita pelo jornal Valor Econômico, “no Brasil, onde 500 profissionais foram entrevistadas, 46% lutaram para conciliar vida profissional e familiar, 68% disseram que fizeram a maior parte do trabalho doméstico, 78% que foram elas que cuidaram da educação dos filhos no período em que as escolas estiveram fechadas e 46% disseram que adaptaram seu horário de trabalho mais do que o parceiro.”
Para repercutir as notícias dos parágrafos anteriores não precisamos ir longe no tempo. Com exceção do artigo de novembro passado, todos os demais são desta semana – entre 25 e 28/1/2021. Outras notícias parecidas foram deixadas de lado pela escolha de um texto menos longo.
Ao final, reflito sobre meus temores iniciais e concluo não ter sido imprudente e nem escrito algo irrefletidamente e nem fora do tempo.
A pandemia não acabou, e mesmo assim, é possível observar que seus efeitos são e serão muito diferentes – se não opostos – para os vários setores sociais.
Silenciar sobre estes fatos, ou não mostrá-los, só tornará mais difícil a possível recuperação das perdas que pessoas 60+, mulheres, negros e pobres tiveram neste período com consequente aumento do desnível social e econômico e da necessidade de políticas públicas que atenuem esta realidade.
Comente abaixo, gostaria muito de saber a sua opinião.
Até o próximo artigo!