Profissionais sem prazo de validade

Ricardo Ferraroni • 7 de setembro de 2018

Um belo dia você acorda e, de repente, parece que o mercado inteiro percebeu que você está com mais de 50 anos!


Uma falha imperdoável para um profissional, pelo menos no Brasil!


Ok, você se preparou bem, sempre teve sucesso, recebeu boas propostas de trabalho, muitas realizações e sempre foi considerado competente, mas agora tudo parece diferente.


Claro que muitos dirão que isto não é verdade e apresentarão estatísticas muito interessantes sobre a empregabilidade de profissionais maduros mas, na realidade, depois dos 50 anos, quando participamos de qualquer processo seletivo somos avaliados como produtos em um “supermercado profissional” onde nos selecionam pela nossa “marca”, pela nossa qualidade, confiabilidade mas, independentemente de tudo isto estar bem, somos geralmente preteridos por outros “produtos similares” (e por vezes inferiores e genéricos), simplesmente por terem maior prazo de validade.


Bom, olhando por este lado, nosso prazo de validade está realmente mais próximo do vencimento (seja ele qual for) e dá até para entender que uma empresa que está contratando um profissional tem que decidir não só pela experiência, salário e competência dele, mas também pela sua “durabilidade”, e leia-se durabilidade não como o tempo que ele estará vivo neste planeta, mas sim o tempo que ele poderá ainda ser útil para a empresa, na ótica do contratante.


Considerando que a maioria dos recrutadores são jovens ou, no máximo, de meia idade, vamos combinar que a chegada de uma pessoa grisalha para uma entrevista é, no mínimo… desafiadora:


Vejamos: Se o recrutador indicar para uma vaga um jovem promissor, inteligente, bem formado mas com pouca experiência e, “por azar”, este jovem não se adaptar a empresa, ou não der conta do recado, ou simplesmente não quizer se fixar por muito tempo em uma só empresa, a culpa é do jovem que não soube aproveitar a oportunidade.


Porém, se o recrutador decidir indicar para a contratação um “cinquentão experiente” que, por qualquer motivo, também não se adaptar a empresa, adivinhem quem será cobrado pela “má contratação”?


Creio que o ponto onde os profissionais +50´s mais falham em se apresentar e, principalmente, em se preparar para um novo desafio, é que tendemos a valorizar mais o que “fizemos” em nossas brilhantes e intimidadoras carreiras no passado, cheias de experiências, décadas de realizações, etc., etc., mas geralmente deixamos, em segundo ou terceiro plano, de mencionar nossa disposição e comprometimento com o que ainda queremos fazer por nós mesmos e pela empresa que nos contratar, o quanto estamos dispostos a aprender, a “desaprender”, a crescer.


O quanto ainda “queremos” produzir em nossas vidas.


Claro que empreender e abrir seu próprio negócio é sempre uma tentação e uma opção para profissionais maduros e a prova disto é que maioria das startups de sucesso nos USA não são formadas por jovens mas sim por profissionais acima de 40 anos mas, para quem viveu a vida toda dentro de empresas bem estabelecidas, o mundo real pode ser muito perigoso pois os padrões éticos e comerciais nem sempre são os mesmos que você está acostumado, sem falar da imensa burocracia no Brasil, mas isto é um outro assunto.


Em geral, as pessoas ainda tendem a acreditar que alguém com mais de 50 anos já concluiu todo o seu ciclo de vida e que, a única coisa que o(a) faria trabalhar é a necessidade financeira (o que não é de todo uma mentira…) mas não é só isto como sabemos.


Todos nós precisamos de uma ocupação produtiva e de desafios mentais para continuarmos vivos, felizes, saudáveis e, considerando que a expectativa de vida dos Brasileiros sobe a cada ano, é razoável dizer também que a expectativa de “vida útil profissional” também evoluiu para muito além dos 50´s.


Existe no mercado uma carência latente de bons profissionais e muitos são descartados, não pela sua idade, mas por não saberem se preparar adequadamente para uma entrevista e para um novo desafio. Por não saberem identificar e expressar claramente aos interlocutores como pretendem contribuir para a empresa hoje e nos próximos anos.


Afinal, o que você fez no passado você fez por outras empresas e, cá entre nós, boa parte disto já não importa mais pois tudo mudou drasticamente nos últimos 3 anos, 2 anos … 12 meses?


Ok, posso estar exagerando um pouco mas o melhor mesmo que você pode fazer é se conservar bem física e mentalmente, se manter positivo, atualizado, reciclar seus conhecimentos e estar “antenado” com as tendências (goste ou não delas…) para poder ser considerado e participar competitivamente deste “super-mercado de trabalho” pelo que você pode realizar hoje, apresentando sua experiência passada como um conveniente e valioso “plus-a-mais” à sua contratação, mas não o motivo dela.


Pensando nisto, antes de você criticar quem está te avaliando, pare e dê uma olhada no prazo de validade que aparece na sua “embalagem” pois, afinal, o cliente tem sempre razão, até quando está errado.

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