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Carol Romano, mestre em Psicologia Positiva e psicanalista, ensina que devemos valorizar as nossas habilidades e nos dedicar a fazer coisas que nos dão prazer.
O Brasil caiu doze posições, durante a pandemia do coronavírus, no ranking global da felicidade, de acordo com o Relatório Mundial da Felicidade, elaborado pela empresa de pesquisas Gallup em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU). No ranking, divulgado em março, o país ocupa a 41ª posição.
A “nota” atribuída ao Brasil – baseada em dados de 2020 – é de 6,110. Essa é a menor média para o país desde 2005, quando o instituto de pesquisas começou sua avaliação.
Para medir o nível de felicidade, o relatório leva em consideração uma “variedade de medidas de bem-estar subjetivas”, além de variáveis que medem condições econômicas e sociais.
Mas quais seriam essas medidas? O dinheiro, o bem-estar, o sucesso profissional? Para tentar entender o que nos motiva e nos torna mais satisfeitos com a vida, nasceu um braço da psicologia chamado de positiva.
Esta ciência propõe identificar e validar as escolhas e atitudes que colaboram ou não para aumentar o nosso nível de satisfação com a vida ao revelar como podemos criar, hoje, situações e ambientes férteis para que a satisfação autêntica e duradoura possa florescer.
“Não existem emoções negativas ou positivas, mas sim a forma de que reagimos a elas”, ensina Carol Romano, mestre em Psicologia Positiva e psicanalista.
“Temos de criar comportamentos que nos remeta um estado de espírito que nos dá prazer. A felicidade é uma habilidade a ser adquirida pelas pessoas como músculos que devemos exercitar todos os dias”.
A psicologia positiva se baseia no fato de que assim como os pensamentos negativos podem ser aprendidos, os pensamentos positivos e otimistas também.
Esta foi uma das descobertas de Martin Seligman, então presidente da Associação Americana de Psicologia (APA), na década de 90 que se dedicou a estudar os melhores aspectos das pessoas.
Depois de ter dedicado anos de sua carreira ao estudo das desordens mentais, com foco nos estados mentais e na depressão, passou a defender com fervor o reconhecimento e aplicação da Psicologia Positiva.
Um dos marcos deste momento de transformação foi exatamente o lançamento do seu livro – Felicidade Autêntica, onde apresentou seus primeiros estudos e embasamentos sobre a ciência do bem-estar. Para ele, se a positividade poderia ser desenvolvida, todos os demais aspectos relacionados a ela também.
“Acredito que dá para aprender a ser feliz. Mas tem de ser uma busca consciente e constante. Dalai Lama ensina que cultivar estados mentais positivos como a generosidade e a compaixão decididamente conduz a melhor saúde mental e a felicidade”, argumenta a consultora de inovação empreendedora Maker Brands.
“Aumentar o nosso nível de satisfação com a vida em geral é uma escolha, um investimento. É muito diferente de querer ser feliz a qualquer custo”.
Não se trata de ignorar o que não funciona, os problemas e as dificuldades do dia a dia. E sim destacar e valorizar o que está funcionando bem. Ao invés de se concentrar nas disfunções e fraquezas, concentram-se no que é funcional e forte. Segundo Seligman, o bem-estar pode ser medido em cinco fatores :
Em 2018, Carol mergulhou em uma imersão na comunidade centenária de Okinawa, no Japão, para compreender a relação entre longevidade e bem-estar.
Desta experiência, conta que uma das mulheres mais velhas da ilha, estava sempre sorrindo mesmo depois de um dia duro de trabalho.
Perguntando qual seria o segredo, obteve como resposta que primeiro, selecionava as notícias ou informações que colocava para dentro de sua mente e segundo, que não se preocupava, pois sabia que de alguma forma a comunidade e a família estariam ali para ampará-la.
“Este senso de pertencimento, de ter um ambiente colaborativo é muito importante, principalmente para os mais idosos. Isto dá uma base para que a gente possa cultivar as emoções positivas”.
A cidade japonesa faz parte da chamada Zona Azul. O termo foi cunhado pelo pesquisador, jornalista e fundador do projeto Blue Zones, Dan Buettner que visitou cinco regiões do planeta: Okinawa (Japão), Sardenha (Itália), Loma Linda (Califórnia), Nicoya (Costa Rica) e Icária (Grécia) para estudar os fatores da vida saudável. Em um livro com o mesmo nome lançado em 2018, listou nove práticas que podemos aplicar em nosso dia a dia:
1- Movimente-se: é importantíssimo ser uma pessoa ativa, então, caminhe o máximo que puder durante o seu dia a dia, organize sua casa, cuide do jardim e etc.
2- Fuja do estresse: arrume formas de se estressar menos, seja rezando, meditando, praticando um esporte ou hobbies.
3- Coma pouco: pare de comer quando estiver com 80% do seu estômago cheio.
4- Coma pouca carne: siga uma dieta rica em vegetais, frutas, verduras e legumes, enfim, uma alimentação balanceada.
5- Beba com moderação: aquele tacinha de vinho diária pode fazer bem.
6- Fé: não importa qual é a sua religião, o importante é praticar a espiritualidade de alguma forma.
7- Amor: crie laços afetivos fortes, ame mais! Tenha família e amigos próximos a você.
8- Socialize: manter uma rede de afetos é bom para a longevidade.
9- Tenha um propósito: ter um objetivo na vida é essencial.
Carol também fez uma imersão no Butão para compreender como o país aplica o FIB (índice de Felicidade Interna Bruta) na prática, em 2013.
Para aprofundar seus estudos, dois anos depois especializou-se em psicologia positiva com o professor Tal Ben Shahar, de Harvard. Em 2017, fez o curso de Liderança para Transição, na Schumacher College. No mesmo ano, criou a Jornada da Felicidade, processo de autodesenvolvimento que conecta psicologia positiva, coaching e autoconhecimento.
Segundo ela: “estamos em uma constante lapidação de nós mesmos, a partir de tudo isso que acontece na vida. Todos temos defeitos, mas não podemos nos focar só neles. Temos de valorizar as nossas habilidades, no que somos bons. É uma prática que foge da nossa educação, da nossa cultura, que é muito forte e é calcada na dor, na superação, no sofrimento. Não tem de ser assim.”
Um pesquisa divulgada pela FGV Social, Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, intitulada “Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia”, apontou que a raiva, preocupação, estresse e tristeza foram sentimentos que se tornaram mais presentes na vida dos brasileiros, de 2019 para 2020.
A raiva, por exemplo, subiu de 19% em 2019 para 24% em 2020, entre as pessoas com 15 anos ou mais, resultando em uma diferença de 5 pontos percentuais.
“Sei que passamos por um período muito difícil aqui no Brasil. Não ainda querer esconder o mal com peneira. Ao longo da nosso vida teremos momentos de frustrações, luto, faltas. A vida é feita disto. O que a gente propõe é equalizar este dor de maneira consciente com sentimentos mais positivos. Em vez de ficarmos valorizando o que não temos, é agradecer e entender o que podemos aprender com a situação que estamos vivendo”, pondera a coaching.
E como encaixar isto tudo no nosso dia a dia? Fazendo pausas e nos dedicando a gestos que nos faz bem: ler um livro, cozinhar, telefonar para um amigo. Uma outra dica é cultivar a gratidão e o perdão. “Estes dois são emoções com altíssima vibração e nos leva a este lugar de bem-estar. O importante é manter uma constância”.
O conselho é criar o hábito de cultivar as emoções positivas. Ao nos depararmos com um conflito, buscar dissolvê-lo e transformá-lo em aprendizado usando a nossa capacidade cognitiva.
É a partir do processo cognitivo que o ser humano consegue desenvolver suas capacidades intelectuais e emocionais, isto é, linguagem, pensamento, memória, raciocínio, capacidade de compreensão, percepção etc.
Portanto, o desenvolvimento cognitivo de cada pessoa afeta diretamente a forma como ela se comporta, aprende, recebe e elabora as informações ao seu redor. Trazendo o termo ainda mais para o contexto psicológico, a cognição é responsável pela regulação emocional, controle de impulsos e tomada de decisão — fundamentais para a saúde mental, qualidade de vida e relações interpessoais.
“Usar destas ferramentas para ser feliz é a nossa meta”, assinala Carol. E finaliza com um dica para os maturis:
“Não espere o amanhã, a aposentadoria, a viagem dos sonhos para valorizar o que lhe dá prazer, faça isso agora.”
Assista os melhores momentos do MaturiTalks “Felicidade na Maturidade” com Carol Romano e Mórris Litvak