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Livro e peça sobre sexo na maturidade nos ajudam a refletir sobre sexualidade, preconceito etário e os tabus que envolvem a libido dos 50+
Enquanto eu tiver língua e dedo nenhuma mulher me mete medo (atribuído a Vinícius de Moraes)
Ao observar a si e a um grupo de amigas e amigos envelhecendo resolveu fazer uma pesquisa sobre o pensamento, o sentimento e a prática, das pessoas 50+, a respeito de sexo.
O objetivo, segundo a jornalista, autora de um livro e de um texto para uma peça “nunca foi realizar uma pesquisa científica, quantitativa ou qualitativa.
A meta era reunir um número considerável de pessoas que se dispusessem a refletir sobre o passado e o presente de suas relações afetivas, amorosas e sexuais”, em Mistérios da libido na velhice.
Depois que 250 pessoas enviaram suas respostas, Tania Celidonio pode compilá-las e organizar seu livro de modo que cada capítulo reunisse as respostas a uma pergunta. O ineditismo do trabalho e diversidade de opiniões dos respondentes prometem uma boa qualidade que ao final é certificada.
A leitura é fácil e nos incentiva a criar estórias para as e os respondentes. A autora preferiu não emitir opiniões. As respostas foram publicadas, simples assim.
A miríade de depoimentos reforça nosso argumento que a palavra envelhecimento – delicada e brutal, deve ser escrita no plural quando nos referimos à passagem de tempo para as pessoas.
Como os indivíduos são singulares, os envelhecimentos são individuais. O modo como se envelhece é pessoal e intransferível, mesmo que façamos parte de grupos com características semelhantes.
Aí reside uma das belezas do que se conceitua como diversidade, mesmo para aqueles e aquelas que não encontram beleza no envelhecimento.
Todos os respondentes entregaram seus questionários em 2017 e 2018. Isto não faz com que as respostas sejam datadas, mas refletem a cultura individual (marcada pelas diferenças) e a cultura coletiva (marcada pelas semelhanças) de pessoas que viveram a liberação sexual dos anos 60 e 70, a Aids nos anos 80 d0 século passado e a valorização superlativa do olhar sobre os demais sentidos.
Numa das cenas de Só acaba quando termina – Crônicas do Sexo na Velhice, Roberto Frota em conversa com Vanja Freitas declara: “a verdade, a verdade é que eu não consigo me sentir atraído por mulheres da minha idade, entendeu? Eu, simplesmente, não consigo. Eu olho para elas e o que vejo são vovós desinteressantes”.
Atriz e ator aparentam ter mais de 60 anos. É a combinação do império do olhar com o culto à juventude. É intimidação explícita para que o outro mantenha a vergonha em expor o próprio corpo.
A peça é muito mais que a propagação de preconceitos e vieses – inconscientes ou não – sobre o envelhecimento e sexo na maturidade.
Os 40 minutos que dura a transmissão passam desapercebidos. A agilidade do texto nos propõe a cada nova cena um novo mergulho interno nos sacudindo no mais íntimo. Uma nova oportunidade de nos perguntarmos se pensamos, sentimos e agimos como o ator e as atrizes.
Dedos e língua coçam de vontade de trazer novas cenas, mas seria somente spoiler, nada que escrevesse seria tão prazeroso quanto ver Anja Bittencourt, Roberto Frota e Vanja Freitas sob direção de Marcos França nos trazendo falas já conhecidas que ora nos aproxima de nossos temores e desejos atuais, ora de nossos arrojos e renúncias passadas.
Há inúmeras questões que merecem aprofundamento. Destaco a busca e união de homens mais velhos com mulheres mais novas.
Será que há um match perfeito entre os 2 gêneros neste caso? Enquanto os homens não abandonam o desejo de serem cuidados, há mulheres que queiram cuidar destes homens? As idades de ambos são relevantes? Há outros motivos que levam mulheres a “maternar” homens com idade para serem seus pais?
Envelhecer não deve ser admitido como uma maldição ou uma inegável exclusão sexual. A perda da potência masculina e o ressecamento feminino são naturais, sim. A eterna juventude é uma mentira que repetimos e idolatramos.
A desconstrução dos preconceitos etário, sexual e da sexualidade dos 50+, passa por nos aceitarmos brochas, ressecadas, barrigudos e flácidas, mas potentes para inovar e estar fluidamente disponíveis para descobertas do uso do toque e do tato, dos cheiros e do olfato, das sonoridades e da audição e, por que não, dos sabores e do paladar.
Serviço
Só acaba quando termina – Crônicas do Sexo na Velhice
Temporada: segundas-feiras 02 e 09 de novembro
Horário: 21h
Local: Plataforma ZOOM
Duração: 40 minutos
Classificação: 14 anos
Ingressos: Contribuição Consciente
Capacidade: 100 pessoas
Importante: a sala da peça estará aberta a partir das 20h45
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