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Em meados da década de 90 do século passado – quando conhecemos a internet – dissemos que todo o mundo, inclusive o do trabalho, estava mudando tão fortemente e que nada seria como antes. De fato, mudou e nada foi como antes.
Nos anos 2000, enquanto presenciávamos a introdução de dispositivos móveis em nosso dia a dia – tornados possíveis pela conexão à internet e pela miniaturização das memórias e pela maior duração das baterias -, continuamos a dizer que o mundo do trabalho mudava abrindo possibilidades com a criação de novas profissões que a humanidade até então desconhecera.
Chegamos a acreditar – na segunda década do século XXI a que acaba neste ano – que a internet das coisas (IoT) e a Inteligência Artificial (IA) seriam tecnologias que impactariam o mundo do trabalho de tal forma que acabaria com o emprego como forma de trabalho e seria a última fronteira entre os humanos e máquinas.
Agora, com o isolamento social provocado pelo combate ao coronavírus voltamos a acreditar que as mudanças no mercado de trabalho serão tão grandes que tudo será transformado, milhões perderão seus empregos e não haverá trabalho para mais ninguém, em outras palavras, nada mais será como antes.
Por enquanto, são mudanças já conhecidas, na realidade, a opção pelo home office e a automação de funções repetitivas – as mais comentadas -, já aconteciam em todo o mundo e inclusive no Brasil.
É certo que muitas das empresas que, até então resistiam ao trabalho remoto, foram vencidas pela necessidade e pela obviedade científica do confinamento.
É importante observar que esta mudança não é só de endereço do trabalho. Home office se faz, também, com qualificação de trabalhadores para adoção de novas tecnologias e de plataformas digitais, até então, desconhecidas de equipes.
Como já estamos vivenciando, o trabalho remoto, apesar de estar sendo adotado lentamente pelas empresas, não se limitará a funcionários de escritórios. O que não sabemos são das consequências que isto provocará.
Inúmeras plataformas de ensino a distância (EAD) perceberam a oportunidade e tornaram vários de seus cursos gratuitos para os novos confinados.
Mesmo se uma pequena parcela pegar o gosto, serão futuramente novas matrículas que poderão tirar mais alguns alunos e alunas dos bancos das escolas presenciais.
A Associação Brasileira de Telesserviços (ABT) – representante de 30 empresas com 440 mil trabalhadores – setor com facilidades aparentes para a adoção de home office, explica que o trabalho remoto não é uma alternativa escalável para a maioria dos funcionários da área de atendimento dos call centers e que o acesso remoto está sendo concedido para funcionários com mais de 60 anos.
Ontem mesmo, em 25/3, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que autoriza o uso da telemedicina no Brasil – em quaisquer atividades da área de saúde, enquanto durar a crise da Covid-19.
O suporte diagnóstico de forma remota, permitirá a interpretação de exames e a emissão de laudos médicos a distância. O Conselho Federal de Medicina (CFM), em decisão recente, passou a permitir a teleorientação, o telemonitoramento do paciente e a teleinterconsulta, também, durante o combate ao coronavírus.
As empresas estão automatizando processos incentivadas pelo isolamento social. E isto não está acontecendo de repente. Há tempos que serviços como pedágios, caixas, call centers e linhas de produção já vinham sendo ocupadas por robôs, mas o contexto poderá acelerar as mudanças que prometem não ter retorno.
O IDados – consultoria especializada em análise de dados e soluções – num recente levantamento “mostrou que 58,1% dos empregos totais em nosso País poderão ser substituídos por máquinas nos próximos 10 a 20 anos”. Esse é o percentual dos empregos classificados na faixa de risco alto (maior do que 70%) de serem automatizados.
Como historicamente vem ocorrendo, essas mudanças atingirão parcelas mais frágeis do contingente de trabalhadores formais e a quase totalidade de trabalhadores informais – sem proteção trabalhista – de baixa renda. É provável que a taxa de desemprego, atualmente, em 11%, será elevada aos 20%, segundo especialistas.
Em recente entrevista ao jornal Valor Econômico o economista Ricardo Paes de Barros – sempre lembrado como um dos formuladores do Bolsa Família – defendeu que o momento é de profundas mudanças estruturais na forma como as pessoas trabalham e se locomovem.
Ele acredita que os locais de trabalho precisam mudar, seja para home office ou espalhando-se pelos vários bairros das cidades. Os horários de trabalho e serviços precisam ser mudados. Na opinião dele, as cidades estão esgotadas sanitariamente e serão necessários investimentos públicos pesados em transporte público e em infraestrutura sanitária para que esta realidade seja alterada.
Enfim, podemos apostar que o que a humanidade está passando agora deverá servir para uma revisão de vários conceitos.
Neste momento, não há que se preocupar com a produtividade no trabalho. É hora, sim, de cuidarmos da manutenção da maior quantidade de postos de trabalho possível.
É hora, sim, de cuidarmos da formação profissional e do desenvolvimento de novas competências. Se estivermos abertos e conscientes do tamanho desta crise, poderemos aprender sobre a ter humi ldade frente a natureza, a sermos mais fraternos e a nos conhecermos mais profundamente.
De uma coisa estou certo: não será o fim da história e, portanto, haverá muito o que fazer depois da pandemia se tornar passado.
Ressalto que estas reflexões foram feitas e o texto escrito um dia antes da publicação. Daqui pra frente, muitas mudanças acontecerão e nada será como antes. Espero que as transformações sejam para melhor e que possamos visualizar, pensar e vivenciar um futuro como mais esperança.
Como síntese tomo emprestadas as palavras de Ariano Suassuna “O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”.