Redescobrindo o Propósito: O Caminho de Uma Escritora
Entre escolhas e redescobertas, a jornada de transformação da vida pela escrita aos 55

Sobre meu primeiro livro
Branca Boson
A busca pelo que me faz feliz é anterior ao empacotamento para venda do “ame o que você faz”, que hoje se tornou até mesmo um pouco opressor. A minha mãe gosta de contar que eu, muito pequena, fiz a ela uma pergunta filosófica após um pito por causa do para casa: era mesmo necessário sofrer para aprender? Sou uma hedonista por nascimento.
Daí, virei uma adulta adulterada, fase em que ou fazemos tudo o que é necessário para alcançar o desejo de infância, ou nem tentamos e remoemos a frustração com amigos, em um bar, em meio a copos de bebida. Eu entrei nessa furada de me sentir marcada pela desilusão e fui me formar no que não desejava, trabalhar onde não queria, uma verdadeira rebelde sem causa. E, pior, sem amigos e sem beber.
Um belo dia resolvi mudar, e fazer tudo o que eu queria fazer. Saí por aí desembestada vivendo, correndo atrás do tempo perdido, errando muito (no sentido geográfico da palavra). Descobrindo coisas sobre aquela criança discípula de Epicuro, reencontrando a adulta perdidona para pegar nos seus ombros e dizer: amiga, para de bater cabeça e vai fazer o que você já nasceu sabendo.
Eu li sozinha aos 4 anos e, antes que mães jovens orgulhosas digam “meu filhinho também”, esclareço que sou do tempo em que só se ia para escola aos 7 anos, não havia streamings com 200 shows infantis e o único programa para crianças na tevê de tubo era o maravilhoso Vila Sésamo. Eu estou querendo dizer que já nasci sabendo que as palavras são magia pura. Mas como também nasci teimosa, demorou um pouco para parar mesmo de bater minha cabeça. Fiz cursos de escrita criativa e guardei meus textos com orgulhoso pudor. Até que alguém me propôs publicar textos meus, o que me deu uma sensação de “até que enfim vieram me salvar”. O alerta assim-não-dá-certo só percebi quando entendi que não seriam publicados da maneira que eu, com a autoestima já ensaiando chegar no lugar, merecia, e chorei por ter caído, de novo, nesse golpe que todo inseguro cai. No meio do choro, uma voz, que não era interior, mas de uma amiga com as mãos nos meus ombros, um pouco mais irritada já que estava me chacoalhando, gritou: “vai publicar o seu próprio livro, criatura! ”.
Naquela verdadeira máxima que diz que até um chute na bunda te faz andar para frente, peguei meus intimidados contos, juntei, e mandei para uma editora indicada por outra amiga indignada com a minha vergonha de estimação. E no dia 21 de fevereiro deste ano, meus textos se transformaram em um belo livro de contos apresentado a quem quiser ver. E belo de verdade, pois em um encontro desses que fazem a gente acreditar em deuses e protetores, fui presenteada com ilustrações maravilhosas, feitas na manipulação de inteligência artificial, por uma designer e estilista para lá de talentosa. Fala sério. Como se eu não amasse tecnologia como amo.
Eu sei que pode parecer mais uma história como aquelas “eu tenho uma amiga que achou o amor da vida num aplicativo de namoro” ou letra de música da Xuxa, mas eu juro que não é. Vida realmente acontece desse jeito. Quando a gente caminha em uma direção qualquer, mas que seja de nossa escolha, o chão vai aparecendo, as pessoas vão aparecendo. E todo mundo sabe disso. O que fazemos é admitir que é assim só quando dá certo e não admitir que tudo de errado antes também foi nossa escolha. Aí que está a pegadinha.
Agora, eu vou falar de outra coisa fundamental nesse processo todo. A maturidade. O que torna ainda mais ridículo qualquer preconceito quanto ao envelhecer, porque esse tipo de coisa só acontece depois de um tanto de caminho percorrido e por causa do caminho. Que sentido faria você juntar toda a vivência e não fazer nada com ela? Eu contei meu processo e preciso dar o devido crédito ao fato de que eu tenho 55 anos! É necessário chegar nesse ponto da vida para enxergar a criança lá atrás e ouvir dela o que interessa. Antes, talvez, estamos tão interessados em nos distanciar dela, para provar que não precisamos mais da tutoria dos pais, que esquecemos a sabedoria que vem no pacotinho, junto com cocô, leite regurgitado, lágrimas e sorrisinhos desdentados. Está ali, por mais inesperado que pareça, nos passos inseguros, na incapacidade de cozinhar a própria comida, na incontrolável vontade de brincar, o que tanto procuramos: autoconhecimento e a inabalável torcida por nós mesmos. Ao virarmos pessoas capazes de se endividar sozinhas, não notamos a troca feita por toda a sabedoria daquela criança.
Espero que já tenham entendido que não estou falando de um hobby, de algo só possível na aposentadoria, nada disso. Estou falando de, finalmente, encontrar o meu propósito. Vai lá, querido amigo de fios brancos e rugas, conversar com essa criaturinha que ainda guarda, cuidadosamente, que nem eu guardei meus textos, as células-tronco da sua essência.
P.S.: Para quem quiser ler esse meu citado lindo livro, basta ir até o link da loja integrada da Crivo Editorial. É https://crivo-editorial.lojaintegrada.com.br/contos-da-lua-branca
Mestre em Gestão da Informação, com tese em Barreiras da Comunicação em marketing, pós-graduada em Gestão Estratégica em Marketing e Responsabilidade Social Empresarial, sou amante das ideias. Tenho grande experiência em comunicação, planejamento estratégico, gerenciamento de produtos e serviços e alguma experiência em docência. Curadoria de informações, conexão entre ideias e conceitos, caráter analítico, curiosidade e criatividade marcam meu perfil profissional. Flexibilidade cognitiva, paixão pelo futuro e amor incondicional pelo aprendizado complementam meu perfil.

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