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“Como construir uma bela velhice” é o tema a ser abordado pela antropóloga Mirian Goldenberg no encerramento da quarta edição do Maturifest que terá, ainda, uma homenagem ao parceiro da Maturi, Walter Alves.
Esse ano, a antropóloga Mirian Goldenberg finalizou o seu pós-doutorado sobre envelhecimento com uma pesquisa com 100 nonagenários. Lançou ainda uma edição revista e ampliada do seu livro “A invenção de uma bela velhice” onde mostra que é possível envelhecer com beleza, liberdade e felicidade. E já esta anotado na sua agenda uma nova participação do MaturiFest, no dia 29 de julho, às 18h35.
“O que vou apresentar no evento é o que eu tenho aprendido com esses nonagenários. Como cada um de nós pode construir a nossa bela velhice e quem sabe chegar a ser um superidoso. Gosto muito dessa ideia de superidoso, não que eles sejam superiores, mas mostram uma vida com significado, com projeto, com amizade, com música, com leitura. Estou preparando uma apresentação muito linda porque este é o meu projeto de vida. É sobre isso que eu quero falar.”
Realmente é uma expert no tema. São mais de trinta anos de estudo dedicados a pesquisas na área de gênero, corpo, envelhecimento, casamento, felicidade. Ela é uma combatente a qualquer estigma que seja imposto aos maturis e cravou um nome simples e de fácil entendimento para isto: velhofobia.
Em 2020, tratou do tema no painel “Velhofobia x projetos de vida e busca de significado” que foi conduzido por Walter Alves, consultor social sobre diversidade e inclusão de pessoas 50+ no trabalho, parceiro da Maturi, falecido, recentemente, e que será homenageado no encerramento da quarta edição do evento.
“Tive muitas conversas ricas com o Walter Alves no MaturiFest. Foi muito bonito e emocionante. Ele era muito verdadeiro e estava realmente engajado nessa transformação para questão do idoso no Brasil”, comenta a professora.
“Ainda, travamos uma conversa muito longa sobre um artigo que escrevi para a Folha de São Paulo que falava sobre reciprocidade. Ele gostou muito. O tema é algo muito raro no Brasil. As pessoas são muito egoístas, não cuidam de ninguém, olham para o próprio umbigo, não prestam muita atenção no outro, não escutam ativamente. Ele, ao contrário, sabia ouvir, se emocionava, se envolvia.”
Fazendo um balanço de uma ano e meio de pandemia que atingiu em cheio os idosos colocando-os como grupo de risco, a autora de livros como “Corpo, Envelhecimento e Felicidade”, “Velho é lindo!” e “Liberdade, felicidade & foda-se” não é muito otimista.
“Acho que piorou muito. Nós vimos até discursos de autoridades falando que seria até bom para Previdência Social que os idosos morressem e que o grande problema do Brasil é que todo mundo quer viver 100 anos. Muitos velhos morreram ou ficaram sequelados. Outros tiveram problemas de saúde em função da pandemia como AVC, demência e até quedas por estarem dentro de casa o dia inteiro sem fazer exercícios”, opina.
Do grupo que acompanha, muitos se adaptaram muito bem, foram bem cuidados pela família. Por outro lado, dois morreram vítimas da covid-19.
Aliás, o isolamento social fez com que perdessem quase dois anos de vida que, ainda mais na fase de vida deles, é uma perda significativa.
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a expectativa de vida do brasileiro diminuiu 1,3 ano em 2020 e vai cair ao menos 1,8 ano em 2021, devido ao excesso de mortes provocadas pelo coronavírus.
Em 2019, a média foi de 76,6 anos —três meses a mais do que o indicador de 2018. Entre homens, ela alcançou 73,1 anos; nas mulheres, 80,1 anos. No ano passado, o país teve um resultado que o fez retroceder ao patamar de 2014.
Um outro problema enfrentado pelos idosos foi o aumento da violência familiar. Dados computados por meio do serviço Disque 100 mostrou um aumento de 500% de denúncias de violência contra os velhos, no primeiro semestre de 2021.
Foram 37 mil notificações, sendo 29 mil delas sobre violência física. A maior parte das vítimas tem entre 70 e 74 anos, 68% são do sexo feminino e 47% dos agressores são os filhos.
As ocorrências mais frequentes são maus-tratos, exposição de risco à saúde e constrangimento à violência patrimonial, responsável por 9 mil denúncias neste ano.
“Eu estou testemunhando uma verdadeira tragédia. Os idosos sofreram abusos financeiros dentro da própria família, além de golpes que estão sendo aplicados pelos celular”, relata Mirian. “Os velhos estão mais vulneráveis e desprotegidos, sofrendo uma violência dentro de casa que ninguém está vendo. Eles não denunciam porque têm vergonha de acusar os próprios filhos, netos, cônjuges, genros.”
Uma discussão importante foi a reação à nova norma da OMS considerando a velhice como uma doença. “O tema acendeu a luz vermelha e aqui, no Brasil, as pessoas começaram a mudar o olhar sobre a velhice. Tantos brasileiros reagiram a essa questão se unindo, enviando mensagens e fazendo movimentos para que a velhice não seja vista como uma incapacidade, uma inutilidade, uma doença.”
Mais uma alegria foi o lançamento do novo livro. “É uma fonte de prazer para mim nesse momento tão difícil, porque é justamente sobre a possibilidade de construir uma bela velhice, de combater a velhofobia no Brasil. Em cada capítulo, falo sobre o propósito, uma vida com significado, a importância da amizade, as diferenças entre homens e mulheres, os medos do envelhecimento.
E conclui: “o livro também é um retrato de tudo que eu aprendi de mais importante para construir a minha própria bela velhice e quem sabe chegar aos 90 anos como os meus queridos amigos.”