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Felipe D.* chegou à sua última semana de trabalho um tanto ou quanto aflito. Por um lado, estava aliviado por saber que, a partir da sexta-feira, a aposentadoria lhe traria a liberdade que sempre sonhou. Não precisaria mais acordar cedo, colocar seu terno e, como sempre dizia, aguentar o ego “tamanho XXG” do chefe.
Não veria mais a sua secretária religiosamente às 8 horas parar em sua porta para fazer um resumo de todos os compromissos e reuniões que ele teria naquele dia e que nunca cabiam na sua agenda. Mas, ainda assim, ele estava um pouco aflito. O que seria dele na segunda-feira seguinte, quando não precisasse acordar cedo?
Sem o terno, velho conhecido de tantos anos, ficaria de pijama pela casa? Sem ter metas a atingir ao final do mês, como ele ocuparia os seus dias? A aflição, de repente, virou pânico. E, o pior, a partir de segunda-feira poderia até mesmo virar depressão.
Eu, pessoalmente, vi de perto alguns executivos entrarem em depressão porque a aposentadoria estava chegando. Pessoas que passaram a vida inteira se identificando apenas com a empresa e, a partir do momento em que não mais estariam ali, não se reconheceram mais, nem como pessoas.
Antigamente a aposentadoria era uma fase da vida sem muita atividade e, não raras vezes, indicava uma das duas coisas: descansar na praia (ou na casa de campo) ou entrar em depressão por perder a identidade duramente construída ao longo de anos de trabalho. Se falava em “pendurar as chuteiras” e não buscar nada de novo.
Há muito tempo que as opções de ação para quem se aposenta se tornaram variadas. E, às vezes, elas são tantas, que paralisam as pessoas, trazendo o que o psicólogo Barry Schwarz chama de “O Paradoxo das Escolhas”: com tantas alternativas disponíveis, é muito difícil tomar uma decisão e, quando a tomo, me sinto inseguro de ter feito a escolha certa.
Cada vez mais e mais pessoas estão formalmente se preparando para a aposentadoria e a tratando apenas como mais um período da vida.
Para alguns, por exemplo, isso significa desde cedo começar a visitar um geriatra. Longe de ser privilégio de idosos, a ida prévia a um geriatra ajuda a identificar de forma holística tudo o que pode influenciar a sua saúde em longo prazo e a preparar um plano de ação, desde já, para ter o máximo de bem-estar e vida saudável ao longo dos anos.
Outro caminho útil é pensar nos seus talentos, valores e necessidades. Esses são itens que ajudam a desenhar um quadro com possibilidades reais de atividades futuras.
É importante também revisar o conceito que temos de trabalho apenas como sendo algo formal, com horário fixo e um chefe na nossa frente, pois isso pode abrir várias janelas em relação a oportunidades de ocupação. Qualquer atividade que gere uma melhoria pessoal ou social já é um trabalho.
Aqui podem entrar hobbies esquecidos ou paixões juvenis e também atividades de altíssimo nível intelectual e representatividade na comunidade.
O desenho das várias missões que temos em cada área de nossas vidas (família, trabalho, financeira, saúde, etc.) também ajuda na identificação dos próximos passos.
Pense em “missão” como aquele legado que você quer deixar para os outros. O “pulo do gato” é descobrir quais atividades geram propósito para você. Uma vez identificando isso, não importa a natureza da atividade (se é um novo trabalho, um hobby ou um lazer), mas sim que ela preencha sua sensação de continuar sendo útil e aprendendo algo interessante.
Para as pessoas que passaram a vida em um trabalho sistemático fazendo planejamentos e projetos, deixo aqui um convite: planeje também a sua aposentadoria. Você ficará surpreendido com um processo que pode ser muito gratificante. Lembre-se que você é o projeto mais importante de sua vida.
(*) nome fictício (mas situação que pode acontecer com qualquer um!)