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Você já deve ter notado uma avalanche de empresas que se apresentam como adequadas ao ESG e plenamente alinhadas às diretrizes de sustentabilidade que o cenário mundial ora exige de todos nós, inclusive do setor empresarial.
Fantástico poder acreditar nesta conscientização empresarial, em massa, que pode levar à redução de consequências diretas que uma empresa pode causar e ainda, promover o avanço das relações sociais e a preservação do planeta.
O que talvez você não saiba é que nem todas que se dizem ESG o são… Mas não se preocupe! Você não está só.
Se nem mesmo os investidores conseguem distinguir empresas que seguem legitimamente a filosofia ESG daquelas que a anunciam sem qualquer compromisso, imagine nós, os leigos no assunto! A esta prática enviesada deu-se o nome de ESG-WASHING.
Vamos entender um pouco mais a questão:
O ESG é uma sigla em inglês que significa Environmental, Social, and Corporate Governance, e representa um conjunto de boas práticas que significam se a operação de uma empresa é socialmente sustentável, e corretamente gerenciada, tendo os seguintes pilares:
O movimento, ou filosofia, ESG surgiu de uma iniciativa de responsabilidade social corporativa lançada pelas Nações Unidas, tendo se transformado em um fenômeno global, fazendo com que as corporações alinhadas à ESG passassem a ser melhor avaliadas no mercado de investimentos e na sociedade.
A abrangência do movimento relaciona-se às seguintes preocupações:
A partir deste conceito, os indicadores ESG passaram a estar intimamente ligada ao conceito de investimento responsável.
No início, o Investimento Responsável era considerado como uma área de investimento especializada para atender às necessidades daquele que desejasse investir dentro de parâmetros eticamente definidos. Com o passar dos anos tornou-se uma proporção muito maior do mercado de investimento, tendo, em junho de 2020, atingido a cifra de US$ 20,9 bilhões nos Estados Unidos.
O movimento, ou filosofia, ESG, em minha opinião, é fruto do desenvolvimento de uma sociedade, que acorda para os desequilíbrios sociais; ameaças ambientais e outras questões decorrentes de práticas humanas inconsequentes, e faz com que investidores busquem valorizar e desenvolver empresas assim comprometidas.
Afinal, vincular a atividade empresarial a princípios e diretrizes que prezem as questões ambientais e sociais é uma prática que se espera de uma empresa responsável com o mundo à sua volta (consumidores, fornecedores, colaboradores, investidores, e seu próprio planeta).
Entretanto, o que investidores não previam é a prática que passou a ser chamada ESG-washing.
ESG-washing é a prática de informar que a empresa adota a prática ESG quando, na verdade, não. É só para inglês ver.
Em 1992, Charlotte Haley criou a ideia de usar uma fita rosa para conscientizar as pessoas sobre o câncer de mama. A fita rosa viralizou e rapidamente passou a ser adotada em campanhas publicitárias de empresas que queriam associar sua marca com a causa.
Não demorou muito até que a BCA (Breast Cancer Action – organização sem fins lucrativos que apoia a causa do câncer de mama) denunciou que muitas empresas utilizavam este expediente para se promoverem, ao mesmo tempo em que fabricavam produtos com ingredientes que comprovadamente aumentavam o risco da doença. A esta estratégia atribuíram o nome de “pinkwashing” – ou maquiagem rosa.
A história da Yoplait, patrocinador principal da “caminhada Susan G Komen” pelo câncer de mama é um caso típico de pinkwashing. Os recursos arrecadados com a venda do iogurte com tampa rosa eram destinados à causa, todavia, revelou-se que o produto era feito com o hormônio rBGH, que estimula o crescimento dos tecidos do câncer de mama, fato a encadear outra campanha, só que desta feita contra a Yoplait.
Em 2008, a organização “Think Before You Pink” fez uma campanha contra a Yoplait que, após muita pressão, levou sua fabricante, a General Mills, a se comprometer a retirar o rGBH da formulação do produto.
Antes da onda ESG, era pouco relevante para os investidores brasileiros que uma empresa ou fundo se apresentassem como sustentáveis. A situação mudou.
Segundo Fabio Alperowitch, em seu artigo no site Infomoney “A pandemia do ESG-washing e sua letalidade”, quando uma companhia apresentava seu Relatório de Sustentabilidade, por exemplo, ela dialogava sobretudo com seus fornecedores, colaboradores e clientes, objetivando um reforço de sua cultura corporativa ou construção de marca.
Entretanto, ela não seria incluída ou excluída do universo de cobertura dos investidores ou não valeria mais ou menos múltiplo por conta de suas práticas sustentáveis.
Analogamente, os fundos de investimento que se autodeclarassem como praticantes da filosofia ESG podiam até ser repelidos, uma vez que existia (e ainda existe) o falso dilema de que rentabilidade e sustentabilidade não se conversam.
Mas agora os interesses mudaram súbita e intensamente. Qual empresa não quer se vender como sustentável, preocupada com as questões socioambientais e, assim, evitar correr o risco de ser cancelada pelos investidores?
Portanto, os investidores encontram-se ainda pouco preparados para ter um olhar crítico para identificar o ESG-washing, separando quem fala de quem faz ou distinguindo o que é ou o que não é material.
É fácil compreender, por exemplo, um fundo ESG que investe em empresas que nitidamente possuem boas práticas. Contudo, também é uma vertente ESG investir em empresas que têm práticas controversas, mas engajar-se para que elas evoluam.
Fácil entender a razão de tantos empreendimentos se autointitulando aderentes à ESG, mesmo sem darem a devida atenção às práticas por ela preconizadas: Querem a atenção dos investidores.
Praticam a ESG-washing e subvertem todo um sistema de avanço moral no mundo corporativo, além de colocar em risco um valioso movimento de crescimento humano.
“Os riscos do ESG-washing extrapolam a questão filosófica. Há impactos diretos em múltiplas dimensões. Se partimos do pressuposto que investidores alocam seu capital em empresas aderentes às boas práticas ESG buscando maiores retornos e/ou menor risco e/ou alinhamento de valores, não é difícil concluir que não identificar quem pratica ESG-washing leva, automaticamente, à redução do retorno esperado, aumento de risco e desalinhamento de propósito. Se significarmos pandemia como uma enfermidade que ataca simultaneamente um grande número de indivíduos em uma determinada localidade, o ESG-washing praticamente cabe nesta definição. Disparatadamente, o ESG-washing surge a partir do próprio ESG e tem a possibilidade de matá-lo, constituindo-se, então, a sua letalidade.”, destaca Fabio Alperowitch
Agora que tivemos conhecimento do assunto, vamos ficar atentos às empresas que se dizem observantes dos princípios ESG, e àquelas que só querem conquistar investimentos e a aceitação do mercado. ESG-washing não!